quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Espiando um futuro

Geralmente isso acontece (ou é mais perceptível) quando passamos por mudanças mais substanciais em nossas vidas, muito embora também possa ocorrer num momento inusitado, coloquial, ou aparentemente menos significante. O fato é que, algumas vezes, nos vemos numa situação que nos permite brechar pelo buraco da fechadura da porta do tempo, e vislumbrar um possível futuro.

***
Eu girei a chave na fechadura e segurei a maçaneta, minha mão estranhando o formato daquele objeto. Foram anos fazendo a mesma coisa, noutro lugar. Empurrei de leve a porta e fiquei surpreso com o silêncio. Aquela não gemia como a outra. Achei graça em constatar que sentia falta de algo que sempre reclamei e, embora tivesse total condições de evitar (bastava trocar as dobradiças da antiga porta, na antiga casa), nunca o fiz.
A nova sala se apresentou então pra mim. Cores, sons e cheiros. Luz e espaço. Tudo era diferente.
Uma das muitas caixas espalhadas naquele chão de piso estranho, semi-aberta, revelava um velocípede, desmontado. E foi nessa hora que espiei um futuro.
Feliz da vida, eu fingia não alcançar em velocidade meu filho, já um pouco mais crescido do que hoje, que girava o pedal o mais rápido que podia, conduzindo sua pequena motocicleta pela sala, desviando dos móveis, conseguindo sorrir ainda mais do que eu.
Logo eu já estava de volta, a olhar as caixas. E agora tudo me parecia familiar. Aquela já era minha casa, e nela eu já tinha lembranças de um possível futuro.
***

Um comentário:

  1. ...a primeiridade da informação, destroça a continuidade dessa mesma, auto-inserida, pela surpresa do instante e flash...
    Só depois de analisado pelos filtros da razão e memória, é que assimilam a lógica e partem para conjecturas...
    Eis ai o que chamo de futuro previsível...

    muito bom !

    abraço
    Joe

    ResponderExcluir