sexta-feira, 23 de novembro de 2007

quem mundo sou eu?


A solidão quando bate é como se eu estivesse em
outro mundo.
Um mundo desabitado, de cores e formas
minhas.

O vento sopra uma antiga e muito querida música em meus ouvidos e,
ao contrário de outras inúmeras vezes, essa solidão de agora me faz bem.
A melodia começa a remodelar o mundo
meu.
Olho ao redor, curioso,
observando tudo mudar,
ritmado,
conforme a música.

Me sinto estranho e, ao me ver,
também estou em mutação, me adequando a este novo ambiente.
Incrível a harmonia entre eu e o mundo.
De repente me sinto bem,
à vontade,
como quem visita um lugar repleto de lembranças antigas.

Um cheiro forte de nostalgia corta o ar.
E o respiro, inflando-me de sentidos e sentimentos.
Essa onda sensitiva espalha-se por meu novo corpo e estrapola-o, ganhando o mundo ao meu redor. Mas eu continuo sentindo-a, agora com uma amplitude espantosa.

É aí, no ápice da antiga melodia, que percebo que o próprio mundo
faz parte de mim.
E eu dele.
Somos um.

É bom estar sozinho, às vezes.
Faz-me conhecer a mim.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

soneto quebrado em saudade

Assim só,
Quem sabe...
No fim do mundo
Caindo a tarde

Torne algum dia
Enfim o vento
A soprar vagabundo
Lento

Que carregue consigo essa poesia
Pequena, singela, macia
Aos ouvidos dela
Distante

Que sopre forte, constante
Tal qual no barco a vela
Quanto mais ondas, insiste!

Talvez assim, quem sabe...
No cair do mundo, final da tarde
Eu deixe de ser triste
E só.

(Vinícius Galindo)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

ê privilégio...

Muitos reclamam de suas profissões, cada um querendo sofrer mais que o outro.
É incrível essa competição que as pessoas bem frequentemente fazem umas com as outras, onde o prêmio nada mais é que o título reconhecido por seu adversário derrotado: "é.. tu tá pior que eu mesmo.."
Não vou me aprofundar muito nessa discussão, vou, contrariando a regra geral de tentar sofrer o máximo possível (mesmo sabendo que é tudo dramatização exacerbada), gabar-me de minha profissão.

Poucos profissionais têm o privilégio de marcar uma reunião de negócios numa mesa bar. Pronto. Começa daí.

-Garçom, uma geladíssima, e dois copos. E então bixo, como é essa casinha aí que tu quer fazer?
-Pois é.. nada demais, quero algo bem simples, até porque tou sem muita grana, sabe?
-Ah cara, pode relaxar! Vamo fazer um projetinho bem simples, baratinho mas eficaz, tranquilo. Opa, obrigado chefe, traz o cardápio, por gentileza?
*tin-tin*
-Aaahh.. essa tá boa viu.. igual tua futura casinha: simples, barata e bem gostosa!

Depois de algumas outras geladas, trocando idéias entre algum filé, camarão ou fritas, sobre espaços, divisões e rotinas do cotidiano..

- Isso, bixo! assim mesmo, vê só, vou fazer um rabisco aqui, pra tu entender melhor
*caneta nanquin descartável e o bom e velho, sempre presente, guardanapo*

risco pra cá, risco pra lá...
-Taí! O que tu acha?
-Porra bixo! É isso mesmo! posso levar pra mostrar à Cláudia? Ela vai adorar...
-Não po, calma.. Isso é só um rascunho, tu não vai querer mostrar tua casa num guardanapo po! Deixa comigo.. eu levo pra casa e faço direitinho, bonitinho.. Te entrego amanhã mesmo, aí depois a gente acerta o restante.. me dá teu telefone!
-Beleza cara, tudo certo então. Garçom! mais uma que eu vou comemorar minha casa nova!

E no fim ele ainda me paga a conta, feliz da vida!



quinta-feira, 1 de novembro de 2007

da série "um brinde!" - brinde01

De quando estamos numa mesa de bar e o assunto, por qualquer razão, fica mais escasso, ou monótono, ou repetitivo.. até que acaba-se.
Sabe?
Aquela hora em que todos tomam um gole de sua respectiva bebida, uma vez que ninguém tem nada a dizer...
Pois não é que funciona?

Como se abastecido de criatividade, munido de uma lembrança, ou mesmo por simplesmente não aguentar mais aquele incômodo silêncio, algum dos presentes solta uma "pérola", deixando seus companheiros boquiabertos, extasiados em como ele foi capaz de dizer tal coisa.
Instintiva e coletivamente, os amigos falam, uníssonos:

um brinde!.


"QUEM DISSE QUE EU ME MUDEI?
Não importa que a tenham demolido:
A gente continua morando na velha casa
[em que nasceu."
Mário Quintana.

Um brinde ao bom e velho mário de todas as horas!