terça-feira, 22 de dezembro de 2009

fim de ano

Eu sei que é clichê, mas... Quer melhor época pra isso do que fim-de-ano?

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
Autor desconhecido por mim

Acreditemos, pois.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Felizes são os ignorantes?

Às vezes me pego afirmando a mim mesmo que a ignorância anda de mãos dadas com a felicidade. Minha racionalidade, obviamente, logo protesta e não aceita isso de forma alguma. No entanto, não consegue estabelecer argumentos convincentes, afinal a sabedoria popular me parece de fato bastante sábia ao dizer "o que os olhos não veem, o coração não sente". Penso então nos menos informados, ou nos mais alienados, e os comparo com seus opostos: aqueles que têm acesso à 'informação verdadeira', ou que sabem filtrar as enormes doses de mentiras descaradas que nos são empurradas goela abaixo, diariamente, por quase todo e qualquer mecanismo de mídia que atua no país. E pergunto: quem é mais feliz?
De um lado, aquele que nada sabe da 'realidade do mundo', que não se preocupa 'o que deveria' com o aquecimento global, a crise econômica ou a decadência cultural, social e intelectual na qual vivemos. O que se restringe à rotina de 40 horas semanais de trabalho, nas quais se diverte com os colegas contando piadas, mostrando ou vendo o vídeo engraçado do momento no youtube, ou ainda escutando o hit atual nas rádios, sem se preocupar se ele é idêntico ao anterior ou se tem qualidade musical e, menos ainda, ao que a letra da música se refere. Que acompanha diariamente a novela ou o reality da vez, que vai regularmente à igreja ou espera ansiosamente pelo fim de semana pra tomar aquela gelada ouvindo outras tantas vezes o mesmo hit, com a mesma despreocupação, entre churrasco e futebol, praia ou piscina, sempre recheado de futilidade, pura e simples, até chegar a mais uma segunda-feira. E a isso ele se resume.
No outro corner, o sempre antenado, culto, esclarecido e ávido por informação. Aquele que sabe receber uma opinião e tecer uma crítica, que tem poder de observação e avaliação, que busca fontes alternativas e menos tendenciosas de informação, que realmente se preocupa com o mundo, política, economia, sociedade e cultura. Que briga por seus direitos, que avalia por tanto tempo e com tantos argumentos a 'simples' possibilidade de deixar um filho nesse mundo. Que se vê a cada dia mais envolvido por essa trama, da qual não consegue escapar e que se auto-alimenta mais e mais, envolvendo a todos os que, como ele, consegue, inutilmente, ver a 'realidade'.
Quem é mais feliz?
Lembro de Matrix. Vale a pena escolher a pílula vermelha? Pra que saber da realidade, se não posso mudá-la? E, antes que me acusem, não é pessimismo. Ela até pode ser transformada, mas não por mim. No mínimo, por pura, simples e inegável falta de tempo. Eu não viveria o suficiente pra ver tal mudança. Porque não, então, engolir a azul mesmo e acreditar que o flamengo hoje tenta ser hexa, que essa nova gripe é mesmo uma epidemia apocalíptica e incontrolável (salvo se tomarmos aquele único remédio eficaz, fabricado por aquele único laboratório), que, em tempos pós-modernos, tudo é arte, ou música e, portanto, válido? Aos da pílula vermelha, o mundo é muito cruel e injusto, e somos todos impotentes. A vida se apresenta cada vez mais difícil, exaustiva e desestimulante. Frustrante. Aos da azul, o mundo simplesmente é. E a vida... bom, a vida passa.
No filme, a pílula é oferecida aos que não sabem da realidade e, uma vez tendo experimentado a vermelha, não há mais volta. Mas curiosidade parece sempre acabar falando mais alto e todos (ou a grande maioria) se imaginam, claro, escolhendo a vermelha. Mas eu me pergunto: e se a escolha fosse oferecida novamente, tempos depois, aos que escolheram a vermelha? Eles continuariam com a mesma escolha? Eu escolheria a azul?